Alan Watts – Dor e Tempo.

O texto foi retirado de um dos Livros de Alan Watts: A sabedoria da insegurança: Uma mensagem para a Era da Ansiedade.
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Dor e Tempo

De que adianta planejar uma refeição para a semana que vem se eu não puder realmente aproveitar enquanto estiver comendo? Se estou tão ocupado planejando o que vou comer daqui uma semana que não consigo aproveitar plenamente o que estou comendo agora, vou estar no mesmo dilema quando as refeições da semana que vem se tornarem “agora”.

Se minha felicidade neste momento consiste basicamente em repassar lembranças felizes e em expectativas, tenho apenas uma vaga consciência do presente. E vou continuar tendo uma vaga consciência do presente quando as coisas boas que estou esperando passarem. Pois vou ter criado o hábito de olhar para trás e para a frente, o que dificulta minha relação com o aqui e com o agora. Portanto, se minha consciência do passado e do futuro diminui minha consciência do presente, devo começar a me perguntar se estou mesmo vivendo no mundo real.

No fim das contas, o futuro não tem muito significado nem importância a não ser que, mais cedo ou mais tarde, se torne o presente. Dessa forma, fazer planos para um futuro que não vai se tornar presente não é muito mais absurdo que fazer planos para um futuro que, quando chegar até mim, vai me encontrar “ausente”, com o olhar perdido e distante, em vez de fixo nos olhos dele.

Esse tipo de vida que se dá na fantasia da expectativa em vez de na realidade do presente é o problema específico dos empresários que vivem só para ganhar dinheiro. Muita gente rica entende mais de ganhar e economizar dinheiro do que de usá-lo e usufruir dele. Essas pessoas não conseguem viver porque estão sempre se preparando para viver. Em vez de ganhar a vida, estão ganhando ganhos, por isso, quando chega a hora de relaxar, elas não conseguem. Mais de uma pessoa “bem-sucedida” fica entediada e infeliz quando se aposenta e volta a trabalhar só para impedir que um jovem fique com sua vaga.

De outro ponto de vista, o jeito como usamos a memória e a capacidade de prever nos torna menos, e não mais, adaptáveis à vida. Se para aproveitar até mesmo um presente agradável precisamos da garantia de um futuro feliz, estamos “pedindo demais”. Não temos tal garantia. As melhores previsões ainda estão no domínio da probabilidade e não no da certeza, e, até onde sabemos, todos vamos sofrer e morrer. Portanto, se não conseguimos viver com alegria sem um futuro garantido, não estamos mesmo adaptados para viver em um mundo finito onde, apesar dos melhores planos, acidentes acontecem e no fim a morte chega.

Este, portanto, é o problema humano: todo aumento de consciência tem um preço. Não podemos ficar mais sensíveis ao prazer sem ficar mais sensíveis à dor. Rememorando o passado, podemos planejar o futuro. Mas a habilidade de planejar os prazeres é contrabalanceada pela “habilidade” de ter pavor da dor e medo do desconhecido. Além do mais, o crescimento de uma percepção apurada do passado e do futuro nos dá uma percepção do presente que é vaga na mesma proporção. Em outras palavras, parece que chegamos no ponto em que as vantagens de ser consciente ficaram menores que as desvantagens, em que a sensibilidade extrema nos torna inadaptáveis.

Nessas circunstâncias, nós nos sentimos em conflito com o corpo e com o mundo ao redor, e consola ser capaz de pensar que nesse mundo contraditório não passamos de “estrangeiros e peregrinos”* . Pois se nossos desejos não estão de acordo com nada que o mundo finito tem para oferecer, pode parecer que nossa natureza não é deste mundo, que nosso coração não foi feito para a finitude, mas para o infinito. O desgosto da alma seria o carimbo da sua divindade.

Desejar alguma coisa prova que essa coisa existe? Não necessariamente. Talvez seja um consolo pensar que somos cidadãos de outro mundo que não este e que, depois do nosso exílio nesta terra, vamos voltar para o verdadeiro lar dos nossos sonhos. Mas, se formos mesmo cidadãos deste mundo e se não houver satisfação para os descontentamentos da alma, isso não significa que a natureza cometeu um grave erro ao produzir o ser humano?

Pois pode parecer que, no ser humano, a vida está em confronto desesperado consigo mesma. Para ser feliz, é preciso ter o que não podemos ter. No ser humano, a natureza concebeu desejos impossíveis de satisfazer. Para que possamos beber mais da fonte do prazer, a natureza nos deu habilidades que nos deixam mais suscetíveis à dor. Ela nos deu a capacidade de controlar um pouco do futuro – o preço é a frustração de saber que vamos perder a partida no fim. Se achamos que isso é absurdo, quer dizer que a natureza nos deu inteligência para reprovar essa mesma inteligência como algo absurdo. A consciência parece ser o engenhoso método de autotortura da natureza.

Claro que não queremos acreditar que isso seja verdade. Mas seria fácil mostrar que a maioria dos argumentos contrários não passa de idealização – o método que a natureza usa para prevenir suicídios e deixar que a idiotice continue. Pensar, portanto, não é o bastante. Precisamos ir mais fundo. Precisamos analisar esta vida, esta natureza que se tornou consciente dentro de nós, e descobrir se ela está mesmo em conflito consigo mesma, se ela quer mesmo o alívio para a dor e a segurança que nunca poderá ter. Alan Watts.

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